Todo ano, no início do ano letivo, faço a mesma pergunta: “quem gosta de Matemática?” e observo que poucos se manifestam positivamente. Se perguntássemos para eles em seus anos escolares iniciais, certamente a devolutiva seria outra.
A forma como se trabalha a matemática nos anos iniciais conquista as crianças, envolve-as gerando expectativas, curiosidades e desafios. Porém, ao longo do tempo, ano após ano, alguns vão se perdendo da Matemática e acreditando que não são capazes de aprendê-la. Uma tristeza!
Sim, uma tristeza! Pois a Matemática está em nosso dia a dia, em todos os instantes e, mesmo sem ter consciência, a utilizamos.
Do grego, μάτεμα (mátema), cujo significado é ciência, conhecimento, aprendizado e ματματίκος (matematikós), “fundação do aprendizado”, ou seja, a Matemática é a ciência que transforma as práticas do cotidiano, as formas e as grandezas em medidas e números, permitindo expressar as relações existentes entre elas.
Desde o início da existência da humanidade, a matemática era expressa por meio de desenhos, de representações cuneiformes, expressando contagens, como um registro da economia da época e da própria existência do homem. Em diversas civilizações espalhadas pelo mundo foram encontrados registros de desenvolvimento da matemática, sempre relacionados às atividades do cotidiano e de observações de fenômenos naturais e temporais. Tais registros permitiram o desenvolvimento do estudo da matemática por meio de suas descobertas, propriedades e relações, de modo a contribuir genuinamente com o desenvolvimento da humanidade. Tais contribuições estão presentes até os dias de hoje, ou seja, incansavelmente a matemática se apresenta na vida, suscitando melhores resultados e eficiência em processos, produtos e serviços. Assim, saber matemática permite que o homem cuide melhor de suas relações com o dinheiro, com a sustentabilidade pessoal e do planeta.
Por exemplo, a matemática está presente em uma informação expressa por meio de gráficos ou infográficos que podem estar num noticiário, num jornal, relacionados a notícias sobre a Covid-19. Saber fazer a leitura e a análise do que o gráfico pretende passar é um diferencial relevante na vida do homem.
Mediante tal informação, pode tomar decisões, buscar soluções em sua vida e para a de seus familiares e pessoas com quem convive no trabalho, contribuindo socialmente de forma solidária e responsável.
É fundamental para o ensino e para a aprendizagem da Matemática que seja trabalhada de forma contextualizada, problematizada e investigativa, desvinculando-a de técnicas e procedimentos mecânicos apenas, e favorecendo habilidades de pensamento que ampliam o raciocínio crítico, a capacidade de argumentar com fundamentação, de analisar uma situação sob vários pontos de vista, de ter resiliência e autoconfiança. O que justifica nosso tema: “Matemática para a vida”, uma vida que vai além dos bancos acadêmicos.
Nada melhor do que o momento atual que vivenciamos, no qual passamos pela Pandemia do Covid-19, em que milhares de estudantes brasileiros foram privados da rotina escolar, deixando de frequentar a escola, de ter aulas presenciais e mal conseguiram acompanhar aulas online, o que agravou mais ainda a desigualdade escolar, para um replanejamento buscando qualificar o ensino de modo geral, mas especialmente o de Matemática.
Temos que levar o estudante a “saber usar a Matemática para resolver problemas práticos do cotidiano; para modelar fenômenos em outras áreas do conhecimento; compreender que a Matemática é uma ciência com características próprias, que se organiza via teoremas e demonstrações; perceber a Matemática como um conhecimento social e historicamente construído; saiber apreciar a importância da Matemática no desenvolvimento científico e tecnológico (BRASIL, 2006, p. 69)”.
A construção do saber pede uma estrutura com flexibilidade, sem amarras e não engessada, que permita a exploração do acerto e do erro, onde a matemática não seja apresentada como uma verdade absoluta ou como um produto com fim em si mesma, mas que esteja integrada ao contexto social, tornando-se mais humanizada.
Assim, o ensino de Matemática para a vida será o ponto de partida para a superação, para o conhecimento e para a aprendizagem de outros modos de significar e ressignificar o mundo, modos que são produzidos por meio de uma racionalidade originada e impregnada pelo conhecimento matemático.