INTRODUÇÃO
Neste século XXI e com a globalização, processo de aproximação entre as diversas sociedades e nações existentes por todo o mundo, seja no âmbito econômico, social, cultural ou político, houve uma maior conexão entre pontos distintos do planeta, proporcionando mudanças radicais da relação do homem com o mundo.
Dessa forma, nasce a ideia de Aldeia Global, ou seja, um mundo globalizado onde tudo está interligado.
Essa nova mudança da relação do homem com o mundo o levará a uma reflexão que porá à prova sua sabedoria, paz e felicidade.
O grande desafio imposto à sociedade é a implantação de um sistema comunicativo que considere a educação, a ética e a ecologia.
Mesmo com a globalização e seus efeitos, a educação poderá desenvolver uma prática que valorize mais a capacidade mental, ética e espiritual do ser humano, além de formar profissionais capazes de aprender, processar, utilizar e distribuir conhecimento.
Segundo Caporali (2001, p.109)
O que falta agora, de um ponto de vista histórico, como resultado de uma era, é povoar o mundo com homens melhores, uma sensibilidade mais fina, uma espiritualidade mais desenvolvida. A base material já está de bom tamanho. Nosso objetivo era sustentar a tese de que é desejável e possível colocar entre os objetivos mais elementares da educação a formação do caráter moral, uma formação que torne o homem mais preparado para lidar com as possiblidades criadas pelos artefatos que hoje nos cercam.
Os programas atuais de educação, de modo geral, apreciam a compreensão e a atuação na realidade cultural, a autonomia e a utilização das novas tecnologias de modo crítico e responsável.
Dentro desse contexto, não se pode pensar em uma educação humanística sem levar em consideração a ética e a moral que fazem parte da vida humana e do processo educacional.
Ética, que vem do grego ethos e significa “modo de ser”, ou “caráter”, e moral, que tem origem no latim moralis e significa “relativo aos costumes”, no contexto filosófico, possuem significados diferentes: enquanto a ética está associada aos conhecimentos extraídos da investigação do comportamento humano ao tentar explicar as regras morais de forma racional, fundamentada, científica e teórica, a moral é o conjunto de regras aplicadas no cotidiano e usadas continuamente por cada cidadão que o orientam, norteando as suas ações e os seus julgamentos sobre o que é moral ou imoral, certo ou errado, bom ou mau.
Pode-se dizer, então, que a ética é uma reflexão sobre a moral, mas ambas são responsáveis por construir as bases que vão guiar a conduta do homem, determinando o seu caráter, altruísmo e virtudes e a melhor forma de agir e de se comportar em sociedade.
Aflorar as qualidades do ser humano passa a ser um trabalho fundamental a ser desenvolvido no âmbito escolar sem desmerecimentos dos conteúdos curriculares de cada disciplina que compõe a matriz dos variados níveis de ensino.
Na verdade, essa temática de desenvolver o que há de melhor em cada ser humano nada mais é do que reintroduzir no ambiente educacional a reflexão sobre ética e sobre valores morais.
Deve-se lembrar que valores não se aprendem como se fosse um conhecimento qualquer porque definem os conceitos, juízos e pensamentos de determinada pessoa ou sociedade.
Pode-se dizer o mesmo da ética, ou seja, a escola não ensinará ética, uma vez que ética não se ensina; ética se descobre e se interioriza pela reflexão e problematização independente da idade e da cultura do sujeito.
Como a escola é um espaço de ensino e aprendizagem e capaz de atingir toda a população, ela reúne as condições favoráveis para que haja processos de reflexão sobre ética e moral, tornando-se um forte instrumento de comunicação para transformar o Brasil em um país mais ético.
Tomando-se como base o pensamento de Morin (2001) sobre a ética do ser humano, cuja denominação dada pelo autor é antropo-ética, deve ser considerada como a ética da cadeia da tríade indivíduo/sociedade/espécie de onde emerge a consciência e o espírito humanos.
Essa concepção complexa que comporta a tríade indivíduo/sociedade/espécie se destaca porque
Os indivíduos são mais do que produtos do processo reprodutor da espécie humana, mas o mesmo processo é produzido por indivíduos a cada geração. As interações entre indivíduos produzem a sociedade e esta retroage sobre os indivíduos. A cultura, no sentido genérico, emerge destas interações, reúne-as e confere-lhes valor. Indivíduo/sociedade/espécie sustentam-se, pois, em sentido pleno: apoiam-se, nutrem-se e reúnem-se. (MORIN, 2001, p. 105)
(…)
Esses elementos não poderiam, por consequência, ser entendidos como dissociados: qualquer concepção do ser humano significa desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias e do sentimento de pertencimento à espécie humana. No seio desta tríade emerge a consciência. (MORIN, 2001, p. 105-106)
Com base nessa relação entre indivíduo, sociedade e espécie, torna-se mais fácil o estudo da ética e dos valores que perpassam a vida humana.
Na visão de Morin (2001), a antropo-ética contribui para que, no ambiente escolar, seja possível (a) trabalhar para a humanização da humanidade; (b) obedecer à vida; (c) alcançar a unidade planetária na diversidade; (d) respeitar no outro, ao mesmo tempo, a diferença e a identidade quanto a si mesmo; (e) desenvolver a ética da solidariedade e da compreensão; (f) refletir sobre a ética do ser humano.
Como são muitas as temáticas a serem tratadas no ambiente educacional quanto à ética e valores, os Temas Contemporâneos Transversais (TCTs) elencados na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), passam a ser objetos de estudo, trazendo discussões de assuntos e conhecimentos relevantes à formação do ser humano para o seu desenvolvimento como cidadão, uma vez que existem assuntos que não pertencem a uma área do conhecimento, em particular, mas atravessam todas as áreas do saber porque fazem parte da realidade humana.
Segundo a BNCC (2019, p.7),
(…) espera-se que os TCTs permitam ao aluno entender melhor: como utilizar seu dinheiro, como cuidar de sua saúde, como usar as novas tecnologias digitais, como cuidar do planeta em que vive, como entender e respeitar aqueles que são diferentes e quais são seus direitos e deveres, assuntos que conferem aos TCTs o atributo da contemporaneidade.
Os TCTs foram divididos em 6 macroáreas temáticas, envolvendo 15 temas contemporâneos que afetam a vida humana em escala local, regional e global.
Ilustração 1: Macroáreas temáticas dos TCTs
Fonte: Elaborado pela autora (2019).
Para as reflexões sobre o tema deste projeto “Ética, educação e ecologia: o tripé do conhecimento do século XXI”, recomenda-se o estudo das macroáreas referentes ao meio ambiente, envolvendo os temas: educação ambiental e educação para o consumo, e à cidadania e civismo, abordando os temas: vida familiar e social, educação para o trânsito, educação em direitos humanos, direitos da criança e do adolescente, processo de envelhecimento, respeito e valorização do idoso.
Quanto à educação ambiental, por exemplo, Morin (2001) considera uma questão importante que a escola deve ensinar: a identidade terrena, uma vez que o ser humano na era das telecomunicações, da internet, das rápidas informações fica tão submerso a elas que não consegue conhecer o próprio mundo em que habita.
A instituição escolar pode desenvolver um modo diferente de pensar capaz de levar o ser humano em formação a ter aptidão para contextualizar e globalizar, uma vez que a exigência da era planetária é pensar na globalidade, na relação do todo com as partes, na multidimensionalidade (várias dimensões de unidades complexas como o ser humano, ao mesmo tempo, biológico, psíquico, social, afetivo e racional, e como a sociedade, histórica, econômica, sociológica, religiosa) e na complexidade (elementos diferentes são inseparáveis, como o econômico, o político, o sociológico, o psicológico, o afetivo, o mitológico. (MORIN, 2001)
Torna-se papel preponderante da escola transmitir informações ao ser humano para aprender a “estar aqui” no planeta. Isso significa aprender a viver, a dividir, a comunicar, a comungar como humanos no planeta Terra.
Aliado ao “estar aqui”, Morin (2001, p. 76-77) ainda considera inscrever no ser humano a
Dentre tantos desafios impostos pela sociedade à escola, transmissora dos conhecimentos do passado, ainda lhe é conferida a responsabilidade por abrir a mente do ser humano em formação para o recebimento do “novo” e o entendimento dele do quanto é importante a construção da cidadania e da participação da vida em sociedade com base na ética, na moral e na consciência ecológica, fundamentais à busca de uma vida espiritual e planetária.
JUSTIFICATIVA
A relevância em se discutir ética, moral e ecologia deve-se ao fato de o ser humano ter uma nova escuta e um novo olhar para si mesmo e para o planeta em que habita.
A exploração de temas que tratem sobre ética e moral é antiga, mas, ao mesmo tempo, nova por permitir reflexões em muitos campos do conhecimento e da existência humana.
À escola será atribuído o papel de cultivar no ser humano a percepção de que a vida envolve sempre decisões alternativas, gerando dilemas e controvérsias, mas possibilita reeducar a inteligência e a sensibilidade para construir a vida com mais beleza e elegância.
Em relação à ecologia, que vem do grego oikos, que significa “casa”, e logos, que significa “estudo”, a palavra ecologia designa o “estudo da casa”, ou seja, do ambiente em que se vive e das inter-relações com os seres vivos que nele estão presentes. Dessa forma, também caberá à escola reeducar os sentidos e os sentimentos do ser humano, para uma nova convivência com os seres que habitam essa era planetária.
Os preceitos éticos, morais e ecológicos devem ser vistos não como preceitos, mas como técnicas da arte de viver melhor a própria vida, consequentemente, influenciando positivamente a vida dos semelhantes que fazem parte do círculo pessoal, familiar e profissional.
Enfatiza-se que a mais bela arte que um ser humano pode deixar para o mundo é sua própria vida norteada por ética, valores e consciência de habitar com todos os seres vivos nos princípios mais nobres já construídos pela espécie humana: Justiça e Bem Comum.
OBJETIVOS
Os objetivos pretendidos com a reflexão do texto “Ética, educação e ecologia: o tripé do conhecimento do século XXI” são
METODOLOGIA
As estratégias utilizadas para a reflexão do texto “Ética, educação e ecologia: o tripé do conhecimento do século XXI” são
objetivo: discussão coletiva sobre os pontos que chamaram a atenção;
objetivo: proporcionar ao leitor conhecer os conceitos que lhe permitam identificar sentimentos, posturas e ações que incorporam e revelam dimensões éticas nobres que permitem visualizar essas ideias tão abstratas como o bom, o justo, o bem, egoísmo, prepotência, deslealdade…;
objetivo: discutir a postura ética do professor ao preparar os alunos para os exames estaduais e encontrar valores implícitos que possam ser discutidos;
objetivo: após a análise, responder às perguntas “Quais são os valores da escola que devem ser utilizados na sala de aula, na biblioteca, no pátio, com os colaboradores?”, “Que posturas devem ser rejeitadas e superadas?”, “Quais valores são importantes e devem ser acrescentados à lista já existente?”
AVALIAÇÃO
O processo avaliativo do texto “Ética, educação e ecologia: o tripé do conhecimento do século XXI” será o seguinte:
formas de apresentação: texto dissertativo, mapa mental, apresentação teatral;
formas de apresentação: expressão oral com a elaboração de slides, elencando as ações tomadas em relação aos fatos apresentados;
formas de apresentação: expressão oral e apresentação em slides das situações e cenas mais controversas, analisando as posturas e avaliando-as;
formas de apresentação: expressão oral e elaboração de mapas mentais, abordando as situações históricas, condutas humanas e avaliações dessas condutas de acordo com a época do acontecimento e quais seriam os efeitos se outras alternativas pudessem ter sido escolhidas;
estrutura do projeto: introdução (conceituação de ética, moral e ecologia), desenvolvimento (respostas às perguntas: quem eu sou?, onde estou?, como devo agir?, o que quero ser?, como contribuir para a justiça e o bem comum da humanidade?) e considerações gerais (importância de viver uma vida baseada nos valores éticos, morais e ecológicos);
formas de apresentação: expressão oral e apresentação em slides do projeto pessoal.
REFERÊNCIAS
CAPORALI, Renato. Ética & Educação. Rio de Janeiro: Gryphus, 2001.
CATÃO, Francisco A. C. A pedagogia ética. Petrópolis: Vozes, 1995.
BARBOSA, Severino Antonio M. A irmandade de todas as coisas: diálogo sobre ética e educação. Lorena: Diálogos, 2010.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Trad. de Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya; Revisão técnica de Edgard de Assis Carvalho. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
BNCC. Temas contemporâneos transversais na BNCC: contexto histórico e pressupostos pedagógicos. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/implementacao/contextualizacao_temas_contemporaneos.pdf. Acesso em: 24 nov. 2019.
Crédito da Imagem: Alena Koval/pexels.