Na Idade Antiga, algumas tribos primitivas avaliavam seus jovens por meio de várias provas ligadas aos seus usos e costumes para que pudessem se tornar adultos.
Os chineses, por exemplo, aplicavam seu sistema de exames cuja finalidade era selecionar os candidatos ao serviço público. Enquanto os gregos submetiam seus adolescentes a duras provas por meio de jogos e competições, os atenienses aplicavam aos seus alunos um exaustivo e preciso inquérito oral.
Na Idade Média, caracterizada pela espiritualidade, predominou o método racional (aplicado à realidade e fatos suscetíveis de comprovação experimental) e o argumento de autoridade (admissão de uma verdade ou doutrina, baseada apenas no valor intelectual ou moral daquele que a propõe ou professa).
No Renascimento, época marcada pela ciência fundamentada na observação e na experiência, houve a preocupação com o desenvolvimento da razão, do raciocínio, do espírito de iniciativa e da espontaneidade.
Nos Tempos Modernos, com a invenção da imprensa, aparece René Descartes com as suas quatro regras para encaminhar o espírito na busca da verdade:
Em 1657, João Amós Comênio considera o exame como um problema metodológico, um lugar de aprendizagem e, caso o aluno não aprendesse, havia de se repensar o método, pois o educador deveria ser o auxiliar do educando e não o seu torturador.
Em 1720, João Batista de La Salle propõe o exame como supervisão permanente e centrada no aluno e no exame o que deveria ser o resultado da prática pedagógica.
Numa visão inovadora, surge John Friedrich Herbart que considerava os exames impostos duvidosos para a formação do jovem. Seu desejo era que a formação deveria ser pelo conhecimento interior, pois só este fator seria parâmetro e fundamento de escolhas posteriores na vida adulta.
Na Idade Contemporânea, com a forte reação contra o ensino vigente, apareceu a Escola Nova, séculos XIX e XX, com um conjunto de iniciativas e experiências educativas opostas àquilo que vinha ocorrendo nas escolas, denominadas de tradicionais.
Assim, aparece Maria de Montessori que rejeita provas e exames e não considera a avaliação como instrumento de aprovação ou reprovação, mas como ato subsidiário ao ensino e à aprendizagem, tendo o professor como auxiliar no crescimento do estudante.
John Dewey já entende que, enquanto permanecerem os hábitos escolares de provas e exames como meios de obter respostas imediatas dos alunos, a educação não terá possibilidades de realizar-se como instância que os auxilia em seu crescimento, porém está ciente de que a sociedade exige da escola a manutenção desse processo.
Anísio Teixeira propõe às exigências sociais e pedagógicas da Escola Nova os seguintes pontos:
Todo esse contexto histórico serviu de base para que a área educacional, no final do século XX e início do século XXI, passasse a se preocupar com a aplicação de avaliações que garantissem efetivamente a aprendizagem dos alunos e a flexibilização da didática e planejamento pedagógico do professor.
CONCEITO DE AVALIAÇÃO
Durante muito tempo na educação, o termo avaliação foi utilizado como sinônimo de medir.
Segundo Haydt (1995, p.8),
Isso aconteceu principalmente na década de 40 devido ao aperfeiçoamento dos instrumentos de medida em educação, incluindo o grande impulso dado à elaboração e aplicação de testes.
A partir de 1960, grupos de estudos surgiram, principalmente nos Estados Unidos, para elaborar e avaliar novos programas educacionais e incluir o termo avaliação em outras dimensões.
Pode-se dizer que avaliar é um ato subjetivo porque envolve concepções de mundo, homem, sociedade, escola, e o professor, ao avaliar, expressa essas concepções que são reflexo da história de escolarização, como aluno e profissional da educação, e um ato político porque está relacionada ao Projeto Pedagógico e Legislação de uma Instituição, portanto, é necessário seguir regras, orientações, gerenciar concepções e conflitos de ideias.
A avaliação deve ser um processo contínuo e sistemático, fornecendo um feedback e permitindo a recuperação imediata quando necessário; funcional porque se realiza em função de objetivos atingidos pelos alunos; orientadora, pois permite ao discente conhecer seus erros e acertos, auxiliando-o a fixar as respostas corretas e corrigir as falhas; integral porque analise a julga todas as dimensões do comportamento, considerando o aluno como um todo, atuando nos aspectos cognitivo, afetivo e psicomotor.
Em suma, a avaliação deve fornecer informações importantes para o educador, a partir das respostas dadas pelos alunos, para que possa verificar o nível de aprendizagem dos estudantes com base nas competências elencadas no Projeto Pedagógico, tomar uma decisão e repensar a didática de trabalho e agir em função de resultados mais efetivos.
VISÕES DE ALGUNS AUTORES SOBRE AVALIAÇÃO
Vários estudiosos renomados no assunto avaliação definem o processo de avaliação de acordo com a postura filosófica adotada.
Ralph Tyler considera a avaliação como um processo contínuo que apresenta por finalidade a verificação das experiências de aprendizagem em relação aos objetivos esperados para auxiliar na percepção dos pontos que necessitam de melhoras. Para Tyler, avaliar é conseguir evidências em relação a mudanças comportamentais ocorridas durante o processo ensino-aprendizagem, levando-se em consideração três características: a objetividade, a validade e a fidedignidade.
Para Norman Gronlund, a avaliação, enquanto processo contínuo, determina a extensão pela qual os objetivos educacionais foram alcançados pelos alunos. Deve haver uma relação explícita entre objetivos, conteúdo e avaliação. Por isso, defende a aplicação de testes durante o processo ensino-aprendizagem: os referenciados: avaliação dos alunos de acordo com o seu desempenho em relação ao grupo e os relacionados em critério: o desempenho dos alunos é relatado quanto a um padrão absoluto, ou seja, a nota é atribuída à medida que apresentam desempenhos próximos da expectativa fixada pelo professor.
Para os autores David Ausubel, Joseph Novak e Helen Hanesian a função da avaliação é determinar até que ponto os vários objetivos educacionais significativos estão sendo atingidos. Avaliar é emitir um julgamento de valor ou mérito, examinar os resultados educacionais para saber se preenchem um conjunto particular de objetivos educacionais. Os pontos principais da avaliação é vigiar a aprendizagem dos alunos e atuar como facilitadora do ensino e da aprendizagem.
Já Benjamin S. Blooom, J. Thomas Hastings e George F. Madaus veem a avaliação como instrumento para aperfeiçoar o ensino e a aprendizagem, ou seja, é uma coleta sistemática de dados a fim de verificar se ocorrem certas mudanças nos aprendizes, bem como a quantidade ou grau de mudança ocorrido em cada aluno. É uma forma de controle de qualidade que visa ao aperfeiçoamento do processo ensino-aprendizagem.
Cipriano Carlos Luckesi demonstra que a atual prática de avaliação escolar não está a favor da democratização do ensino, uma vez que tem servido apenas para acentuar as diferenças existentes entre os alunos, além de servir como meio de classificação. Para ele a avaliação é um julgamento de valor sobre manifestações relevantes da realidade, tendo em vista uma tomada de decisões. A avaliação não deve acontecer somente na esfera cognitiva, mas também na afetiva, psicomotora e social.
Para Jussara Hoffmann, a avaliação é a reflexão transformada em ação durante o processo ensino-aprendizagem. Avaliar é dinamizar oportunidades de ação, reflexão, num acompanhamento permanente do professor que incitará o aluno a novas questões a partir de respostas formuladas.
Em 1979, com G. de Landsheere surge a avaliação formativa para demonstrar que os erros são considerados como momentos de resolução de um problema e não como fraquezas passíveis de repreensão. Essa avaliação apresenta como principal finalidade reconhecer onde e por que o aluno possui determinadas dificuldades e informá-lo, visando à superação delas. É importante ressaltar que esta avaliação não se traduz em notas, é apenas um feedback para o aluno e professor.
Philippe Perrenoud defende a ideia de que a avaliação formativa está presente em qualquer avaliação contínua. Assim, trata-se de tomar consciência dos mecanismos de regulação existentes, de os dominar melhor, de os amplificar e de os individualizar.
Para Celso Vasconcellos, a discussão sobre avaliação não deve ser feita de forma isolada de um Projeto Político-Pedagógico, inserido num projeto social mais amplo.
Na opinião do autor, o Projeto Político-Pedagógico é referência para os projetos de ensino-aprendizagem dos professores e para as respectivas propostas de avaliação.
No contexto de atualidade do cotidiano escolar, deve-se buscar entendimento para vivenciar um equilíbrio nas práticas avaliativas integradas ao processo ensino-aprendizagem, voltadas para uma maior abrangência pedagógica para atender a cada uma das suas funções no devido momento.
CONSIDERAÇÕES
Existem inúmeras visões sobre o tema avaliação e de todos os autores vistos, há aqueles que consideram a avaliação como sendo instrumento por meio do qual o aluno aprende (sem se preocupar com o que não aprendeu), mensurando-a ou conceituando-a, priorizando apenas a classificação do educando e se limitando a exames finais, mas também há outros que afirmam estar avaliando o educando como um todo, abrangendo aspectos desde os psicológicos até os cognitivos, levando o aluno a conhecer seus erros e acertos, verificando se os objetivos traçados pelo professor foram alcançados em função de uma aprendizagem significativa e eficaz.
Faz-se necessário o professor considerar a importância da avaliação como um instrumento de reflexão que poderá gerar mudanças na sua prática pedagógica, uma vez que não é um fim, mas um meio para diálogo entre professor e aluno no processo de ensino e aprendizagem.
REFERÊNCIAS
BLOOM, B. S.; HASTINGS, J. T.; MADAUS, G. F. Manual de Avaliação Formativa e Somativa do Aprendizado Escolar. São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1983.
FERREIRA, Lucinete Maria Sousa. Retratos da avaliação: conflitos, desvirtuamentos e caminhos para a superação. Porto Alegre: Mediação, 2002.
HAYDT, Regina Cazaux. Curso de Didática Geral. São Paulo: Ática, 1997.
_______________________. Avaliação do processo ensino-aprendizagem. 5. ed. São Paulo: Ática, 1995.
HOFFMANN, Jussara. O jogo do contrário em avaliação. Porto Alegre: Mediação, 2005.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar. São Paulo: Cortez, 2002.
PERRENOUD, Philippe. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens – entre duas lógicas. Trad. Patrícia Chittoni Ramos. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.
VASCONCELOS, Celso S. Avaliação da aprendizagem: Práticas de mudança – por uma práxis transformadora. São Paulo: Libertad, 2003.
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